A DOR MUSCULAR DO DIA SEGUINTE
Existe um quadro de dor muscular que
todos nós já experimentamos. Trata-se daquela dor que aparece não imediatamente
após, mas no dia seguinte de uma atividade ou esforço físico mais intenso, mais
prolongado ou que se caracterize por movimentos ou posturas que não estamos
acostumados a fazer.
Na hora, ou imediatamente após, temos
somente aquela sensação de cansaço um pouco mais acentuado e que parece que não
vai ter nenhuma consequência maior. No entanto, o dia seguinte as vezes é
tenebroso !
Geralmente a constatação do “estrago”
ocorre ao sair da cama no dia seguinte, quando muitas vezes a percepção é de se
estar totalmente “travado”.
Este quadro era geralmente associado
ao acúmulo de ácido láctico nos músculos, tanto é que o que se costumava
recomendar é que o indivíduo fizesse exercícios para “soltar” ou desintoxicar
os músculos.
Na realidade a suposição acima
constitui-se em um erro conceitual que pode-se dizer é consagrado pelo uso. O
quadro da dor do dia seguinte não tem nada a ver com o chamado ácido lactico,
nem se constitui numa situação que os músculos estejam intoxicados. O que
acontece é o seguinte: Quando solicitamos nossos músculos acima de um certo
limite de tolerância, o qual varia demais de um indivíduo para outro,
provocamos o que a ciência chama de micro-traumas.
Trata-se de um trauma microscópico
que acomete algumas fibras musculares “machucando” os músculos. A resposta a
este trauma vai ser um processo de reparação do “estrago” que se caracteriza
por um processo inflamatório. Desencadeia-se então uma inflamação dos músculo
inclusive com um processo de edema que chega a provocar aumento de volume. Isto
dói e chega em casos mais sérios a provocar incapacitação funcional. Algumas
vezes pode provocar até aumento da temperatura corporal.
Felizmente este processo evolui em
pouco tempo (no máximo alguns dias) para a absoluta normalização sem deixar
nenhuma sequela.
A questão é reconhecer o quadro e não
conduzir o período de recuperação de forma errada. Fazer exercícios com o
músculo dolorido, alongar os músculos etc não vão ajudar em nada, podendo até
causar um dano maior.
As
dores musculares consequentes à prática de atividade física intensa
constituem um dos quadros mais comumente observados entre praticantes de esportes
e exercícios tanto recreativos quanto estéticos.
O
quadro é transitório e clinicamente descrito por sinais e sintomas que na
literatura científica, tem sido denominado de DOMS (Delayed Onset of Muscle
Soreness) (Carter, Dobridge, Hackney 2001, Brockett, Morgan, Proske 2001,
Kulig, Powers, Shellock, Terk 2001), ou DMIT (dor muscular de início tardio).
A
DOMS tem sido caracterizada na literatura por edema, perda da amplitude de
movimento (ADM) devido a diminuição da flexibilidade, perda de força muscular
do membro afetado, aumento dos níveis séricos de Ceatina Quinase (CK),
Desidrogenase Láctica (DHL), mioglobina e fragmentos da cadeia pesada de
miosina e manifestação subjetiva de dor muscular.
O
quadro é, a consequência de um processo inflamatório desencadeado pela
ocorrência de micro-traumas difusos nas fibras musculares solicitadas, com
manifestações dolorosas de leves a intensas e que são exacerbadas pela
movimentação ou palpação. A dor pode ser experimentada entre 8- 72 horas após o
exercício, podendo persistir por 5 –10 dias, e cujo pico pode ocorrer
entre 24 e 48 horas após sua indução. (Bobbert,
Hollander, Huijing 1986, Newham, Jones, Ghosh , Aurora 1999, Cleak, Eston 1992,
Craig, Cunningham, Walsh, Baxter, Allen 1996).
O
aumento à sensibilidade dolorosa, é resultado do edema e da sensibilização dos
nociceptores intramusculares por substâncias algogênicas liberadas após o
estiramento e ruptura da banda Z (dano muscular).
A
DOMS poder ser provocada por qualquer exercício não habitual e com intensidade
e/ou duração maior que o habitual, porém, os exercícios excêntricos, ou seja,
aqueles que solicitam que o músculo se contraia enquanto é alongado, são
reconhecidamente capazes de provocar maior trauma e, portanto maior incidência
do processo (Paddon-Jones, Muthalib, Jenkins 2000, Dierking, Bemben,
Bemben, Anderson 2000).
Este
maior dano muscular decorrente do exercício excêntrico é explicado pela
exposição de um número relativamente pequeno de fibras musculares a altos picos
de torque, gerados durante o alongamento ativo.
Quanto
ao tratamento do quadro, encontramos na literatura vários procedimentos
propostos, como por exemplo: suplementação nutricional pós-treino e a base de
antioxidantes, manipulação, alongamento, hidroginástica, massagem, crioterapia,
compressão, eletro, termo e fototerapia, além do uso de medicação analgésica
e/ou anti-inflamatória. (Zhang, Clement, Taunton
2000, Almekinders 1999, Johansson, Lindstrom, Sundelin, Lindstrom 1999, Craig,
Barron, Walsh, Baxter, 1999, Craig, Barron, Walsh, Baxter, Allen 1999,
Phillips, Childs, Dreon, Phinney, Leeuwenburgh 2003).
Co-autora:
Dra Gerseli Angeli
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